A Greve Geral de 11/12/2025

Vitória nas ruas, desafios na base.

A vida no território dominado pelo estado português (TDEP) está cada vez mais insustentável. Os nossos ordenados mal pagam as nossas despesas. Com mais da metade dele indo para sustentar as nossas habitações precárias, que todos os anos falham no teste de manter o frio do lado de fora de nossas casas, sobrando pouco para as restantes despesas. As idas ao supermercado – instituição que monopolizou a distribuição de alimentos e itens básicos para a maior parte da população residente no TDEP – tornou-se uma penúri. Somos forçados a contar os nossos cêntimos e fazer previsões matemáticas de nossos gastos: talvez, se eu gastar apenas dois euros por dia, consiga chegar até o final do mês. Frente a esta situação miserável, que se agrava de dia para dia, qual é a proposta dos nossos gerentes da coisa-pública? Uma reforma trabalhista (à lei laboral) que vai explorar ainda mais as pessoas que dependem do trabalho para ter o seu sustento. Com mecanismos que possibilitam o aumento da carga horária via banco de horas, a abrir a possibilidade de termos contratos de trabalho a prazo para a vida toda e a escancarar de vez as portas ao outsourcing, além de escurraçar ainda mais as mães trabalhadoras que se tentam fazer presentes na vida dos filhos, não há nada que nós enquanto trabalhadores temos a ganhar. Nesse sentido, as centrais sindicais fizeram a única coisa que cabia ser feita: chamaram uma greve geral. A Rede de Apoio Mútuo saúda essa chamada, e pontua que é apenas o primeiro passo em uma guerra que ainda se desenrolará por muito tempo.

(à lei laboral) que vai explorar ainda mais as pessoas que dependem do trabalho para ter o seu sustento. Com mecanismos que possibilitam o aumento da carga horária via banco de horas, a abrir a possibilidade de termos contratos de trabalho a prazo para a vida toda e a escancarar de vez as portas ao outsourcing, além de escurraçar ainda mais as mães trabalhadoras que se tentam fazer presentes na vida dos filhos, não há nada que nós enquanto trabalhadores temos a ganhar. Nesse sentido, as centrais sindicais fizeram a única coisa que cabia ser feita: chamaram uma greve geral. A Rede de Apoio Mútuo saúda essa chamada, e pontua que é apenas o primeiro passo em uma guerra que ainda se desenrolará por muito tempo.

A greve do dia 11 de dezembro foi um sucesso. Apesar da disputa de narrativas sobre o número de participação efetiva, apenas uma análise descolada da realidade veria no dia 11 de dezembro uma situação de normalidade ou de, como diz Montenegro, inexpressividade. Todos os serviços essenciais e grande parte do setor da economia pararam, e as ruas encheram-se com dezenas de milhares de pessoas em manifestações marcadas pelo seu tom combativo. Há certos pontos, porém, que devemos problematizar, não para deslegitimar, mas para que as lutas neste território sejam cada vez mais ousadas e bem sucedidadas.

Ficou evidente que houve largos setores da sociedade que não foram incluidos no processo de construção desta greve. A construção civil, por exemplo, setor que se destaca pela grande presença de trabalhadorxs migrantes, seguiu como se fosse uma quinta feira comum. Toda a restauração da zona central de Lisboa abriu como se nada se passasse, exigindo dos trabalhadores a sua presença. Os supermercados de grande superficie não se limitaram apenas a abrir como abriram com os trabalhadores sob ameaça explícita de perseguição e demissão no caso de adesão à greve. Na nossa análise, este facto não se deu apenas por descuido ou falta de capacidade, mas por negligência. Há anos que os setores mais precarizados da economia são desconsiderados pelo sindicalismo oficial e pelos partidos da ordem. Isto se dá, em parte, pela grande presença de trabalhadores migrantes, que não são reconhecidos como trabalhadores plenos por grande parte da esquerda portuguesa.

Neste ponto, gostariamos de chamar a atenção que as pautas das pessoas migrantes, setor que atualmente vem sofrendo mais ataques do que qualquer outro dentro do território, esteve ausente da greve. Não nos deixemos enganar: as pautas das pessoas migrantes são pautas dxs trabalhadorxs. Os ataques que a população migrante residente no território dominado pelo estado português afetam toda a população, migrante ou não. Precariza uma porcentagem consideravel da força de trabalho, deixando o caminho livre para a sua superexploração. Isto tem como efeito a diminuição do ordenado e das condições de trabalho de toda a população. Todas as pessoas que trabalham, independente de sua origem, devem ter os mesmos direitos.

A grande presença de comércios abertos demonstrou uma outra fragilidade da construção da greve: a falta de comitês locais de greve, distribuídos por regiões ou juntas de freguesia. Não deve ser uma escolha do comércio ou escritório abrir as portas ou não, eles devem ser forçados a não abrir pelos comitês grevistas. Durante uma greve geral, trabalhar ou não não deve ser uma opção. Os trabalhadores precisam se sentir seguros o suficiente para aderir efetivamente à greve, e isso é feito com estruturas e ações que impeçam as empresas de abrirem e os trabalhadores de lá chegarem, tais como piquetes de bairro. Talvez a própria manifestação, com milhares de pessoas, poderia ter sido usada para este fim.

Tomando conta da violência cotidiana enfrentado pelxs trabalhadorxs, gostariamos também de expressar solidariedade com a revolta perante uma medida que promete ainda mais precariedade e exploração. Afirmamos que esta revolta é plural e rejeitamos a ideia de que apenas manifestações abençoadas pelas autoridades tem validez. Denunciamos a resposta violenta e generalizada da polícia, que resultou em pelo menos 19 feridos (incluindo uma jornalista, não manifestante) e quatro detidos. A disposição da polícia em usar violência contra manifestantes mais uma vez reafirma seu papel de protetora da propriedade privada e dos interesses das elites.

Por fim, a greve tem como potêncial o acúmulo de experiência e conhecimento coletivo de classe. É na análise crítica dos acontecimentos que conseguimos aprender e avançar. Entendemos também que o dia 11 é apenas um episódio de uma série de batalhas que ainda virão. Lutamos pela construção de uma greve geral verdadeiramente abrangente, não comportada e sem data para acabar, que possa virar a maré de ataques que as pessoas que trabalham para sobreviver tem sofrido.

Ousar lutar! Ousar Vencer!

-REDE DE APOIO MÚTUO DE LISBOA


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