Apesar da repressão não vamos recuar!

Comunicado sobre a manifestação de 1 de abril

No dia 1 de abril, fomos mais de 30 mil a tomar as ruas em protesto contra o custo de vida e a precariedade habitacional. Ao mesmo tempo que somos marginalizados e excluídos das nossas cidades e obrigados a viver sem autonomia, vemos imobiliárias, supermercados e bancos com lucros recorde. A violência deste contexto, ao contrário do que diz a narrativa dominante, é antiga e já nos marca há várias gerações. Quem acusa os moradores de violência, não acusa a violência dos despejos, não fala dos jovens que não conseguem emancipar-se, dos imigrantes agredidos e mortos, dos hotéis e restaurantes de luxo erguidos onde antes estavam as nossas casas, em nome do lucro e de um Estado cada vez mais próximo do fascismo.

Quanto às palavras pintadas e à tinta atirada às fachadas de quem nos priva da nossa cidade e das nossas vidas, não as vemos como atos violentos, mas sim como uma crítica popular prática e um aviso de que a luta ainda agora começou. Muitas e muitos de nós moradores já não queremos fazer meros desfiles cívicos, esperando que o poder burguês se comova com súplicas. A subida de tom é inevitável.

A polícia fez o que faz sempre

A postura da polícia nesse dia não foi excecional nem surpreendente. No Martim Moniz são constantes os casos de assédio, de tortura, rapto e o discurso de ódio perpetuado por elementos da PSP. Cercando o Mercado Oriental, a polícia criou uma autêntica prisão improvisada, à imagem das técnicas que usam em rusgas nos espaços de imigrantes e comunidades marginalizadas. Não acostumada a oposição, o que a polícia não tinha previsto é que centenas de manifestantes iam reagir em solidariedade. Gritando “liberdade!”, “libertem as nossas companheiras!” e “a polícia tem medo do poder popular!”, a concentração exigia a retirada da PSP e a libertação das reféns, ao contrário da mentira propagada pelos órgãos oficiais de que foram manifestantes a cercar e impedir a saída do Mercado.

O poder popular não tem de ser sereno

A PSP criou este conflito como justificação política para brutalizar pessoas favoráveis à luta popular. A reação desarticulada da população presente,atacada e ferida pela agressão policial, deve ser entendida como resposta à injustiça e violência constantes. Exige-se da população uma serenidade e conduta ordeira que não é exigida da polícia, essa sempre escusada de se sentir ofendida e agir violentamente em acessos de fúria.

No decorrer do encarceramento abusivo, vimos a chegada de diversos batalhões da polícia de choque, que indiscriminadamente carregaram contra a população, como podemos ver nas lamentáveis imagens de guardas armados, cobertos de armadura, espancando qualquer pessoa na subida da Torre da Péla. Não há nada que justifique isso, e toda a tentativa de desculpar estas ações - ou relativizá-las - é complacente e criminosa. Apoiamos totalmente quem saiu à rua dia 1 abril, que teve coragem de lutar por melhores condições de vida, através do poder popular organizado! Continuamos o nosso trabalho, com motivação redobrada, porque sabemos que isto está só a começar! Apesar da repressão estatal, o poder popular não vai recuar!

Temem o levante popular organizado!

Rede Apoio Mútuo de Lisboa (RAM Lisboa)


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